Wanderlei é neto de Jorge e dona Carminha. |
Um projeto está transformando a vida de pequenos agricultores do Nordeste: com o esterco dos animais, eles produzem o biogás para usar na cozinha.
A mão de obra é da comunidade e o próprio agricultor pode ajudar. O técnico em agroecologia, Wanderlei Nunes, acompanha os trabalhos. Segundo ele, o local deve ser escolhido com cuidado. “O primeiro passo é a escolha de um bom lugar, um lugar que seja ensolarado, perto da casa. O sol é o fator ideal, é o fator mais importante para a fermentação do gás”.As obras do Biodigestor no sítio de Edivaldo já começaram. E ele, que vive da produção de leite, pensa na economia: não precisarão mais comprar o botijão de gás. Edivaldo já calcula: “Vai ser uma economia de R$ 100 a R$ 150 por mês. Tem que fazer contas de centavo, porque a gente ganha em centavo e gasta em real”.
Escolhido o local, escava-se um buraco com 1,80 metro de profundidade e 3,5 metros de diâmetro. Dentro dele, é erguido o tanque principal. “É utilizando o mesmo sistema [da cisterna], sem a cobertura da cisterna, mas é o mesmo material, placa, ferro, cimento, areia”, conta Wanderlei.
São construídos mais dois reservatórios menores. O de abastecimento, onde serão colocados esterco e água, e o de descarga, num nível mais baixo do que o de entrada dos dejetos, por onde vai sair o que sobra: o biofertilizante. Dentro do tanque principal, vai a caixa onde o biogás será armazenado. Bem no centro, um cano guia serve como eixo, já que ela se movimenta quando o gás é produzido. A caixa de 3 mil litros deve ser de fibra, que é um material leve e bem resistente. “Ela é a peça principal do biodigestor, porque ela é quem armazena, ela é quem retém o gás. Ela tem a capacidade, dependendo da forma que é abastecida, de 2 botijões de gás por mês, isso vai depender da família que está usando”, explica Wanderlei.
Carmo Fuchs é o coordenador do programa da ONG Diaconia, uma organização não-governamental mantida por 11 igrejas evangélicas, que desenvolve ações sustentáveis no campo. É comum o aproveitamento do esterco de animais em fazendas de gado, aves e suínos, onde o biogás é produzido em grandes reservatórios. A diferença é que o biodigestor é menor, adaptado para uso das famílias. “A principal parceria é com a família. Depois de instalado, quem se responsabiliza pelo cuidado da tecnologia são as famílias”, explica Carmo Fuchs.
Desde 2009, já foram construídos pela ONG mais de 500 biodigestores. A maioria em Pernambuco e Rio Grande do Norte. Mas já tem unidades na Bahia, Goiás, Minas Gerais,Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Além de eliminar o uso da lenha, o projeto tem outra função ambiental: as fezes dos animais quando se decompõem, emitem gases de efeito estufa, que contribuem para o aquecimento global. Ao serem armazenados, sem entrada de ar, os dejetos são fermentados pelas bactérias presentes no estrume. Os gases sobem e vão para o fogão. O metano, ao ser queimado, se transforma em gás carbônico, que tem impacto 28 vezes menor no efeito estufa.
Um filtro é o que dá segurança ao sistema. O agricultor vai precisar de canos de PVC e um galão de fibra de vidro de 20 litros. Bastam 10 centímetros de água. O biogás chega por um cano, entra em contato com a água, que limpa as impurezas e tira o cheiro forte dos gases. Depois, ele sobe e sai por um cano até a casa. Se houver qualquer incêndio no fogão, o gás retorna e o fogo é barrado pela água. Como a pressão do biogás é menor que a do gás comum, coloca-se terra cima da caixa, para fazer peso. E o fogão tem que ser adaptado - é preciso aumentar o furo por onde o biogás vai passar.
Globo Rural
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